Entrevista: Yves de Cocker, um especialista em gramados esportivos
O diretor da Desso fala sobre os problemas no estádio de Wembley e prevê desafios nos campos de 2014
Yves de Cocker é diretor comercial da Desso Grass Sports, empresa belga dedicada à tecnologia de gramados esportivos.
Nesta entrevista, concedida em São Paulo, ele comenta os problemas enfrentados pelo estádio de Wembley, em Londres, que já substituiu o gramado várias vezes desde sua recente modernização e implantação de cobertura
Segundo informações de especialistas, o campo do estádio de Wembley já passou por onze replantios da grama após as obras de modernização realizadas em 2007. O que está acontecendo com o gramado?
O problema é que Wembley é um estádio enorme, com capacidade para 90 mil pessoas, e que tem grandes áreas de sombra e é muito utilizado para jogos e shows. Acontece que há 20 ou 30 anos, um estádio de futebol era apenas um estádio de futebol. Hoje os grandes shows musicais - como os de Madonna ou do U2 - precisam de espaços cobertos capazes de acolher até 80 mil pessoas e as arenas esportivas se adequam muito bem a essa necessidade. Trata-se de uma fonte de receita imprescindível para os gestores desses equipamentos. Depois de alguns shows, os administradores de estádios procuram recuperar os gramados, mas quando há jogos logo em seguida não há tempo para o gramado consolidar suas raízes. Com essa diversidade e frequência de usos, é muito difícil realizar a manutenção que os campos exigiriam.
A Desso foi chamada para tentar resolver esse problema. O que é possível fazer?
Nosso sistema, o Desso Grass Master, é um gramado natural reforçado com 20 milhões de fibras sintéticas por meio de máquinas comandadas por computadores. As raízes da grama natural se entrelaçam com a trama sintética formando uma superfície perfeita para a prática do esporte e com grande resistência à abrasão e arrancamento. No ano passado tivemos uma série de reuniões com a equipe que cuida da manutenção do campo e estamos discutindo como nosso sistema poderia contribuir para melhorar o gramado de Wembley. Estamos criando um grupo de engenheiros para estudar o problema, discutir as outras alternativas já tentadas e encontrar uma solução com nosso sistema que seja durável por muitos anos para receber os shows e, especialmente, os jogos de futebol e futebol americano que normalmente acontecem em Wembley.
No Brasil, vários estádios antigos estão passando por obras de renovação que incluem coberturas. Essa mudança poderá provocar problemas nos gramados dos futuros estádios brasileiros para a Copa de 2014?
Hoje, se alguém faz novos estádios, eles já serão construídos de acordo com as necessidades de multifuncionalidade, as renovações que estão sendo projetadas nos estádios brasileiros para a Copa de 2014 já deverão considerar essa flexibilidade para receber jogos de futebol e de outros esportes, espetáculos musicais, encontros religiosos e outras atividades de grande público. Além disso o Brasil tem uma grande variedade de climas. Brasília é muito diferente de Manaus, que é diferente de Recife ou de Curitiba. São diferenças de solo, de umidade, de insolação...e isso vai exigir estudos para definir projetos de gramados que garantam a durabilidade dos campos de jogo. E como esses estádios terão coberturas, talvez seja necessário recorrer a sistemas de iluminação artificial para estimular o enraizamento do gramado.
Mas é possível atender a todos esse climas com o mesmo sistema de gramado?
Nosso sistema, o Grassmaster, conta com 20 anos de experiência em condições muito diferentes. O sistema permanece o mesmo - grama natural costurada numa trama artificial com 20 milhões de fibras. O que muda são os detalhes de drenagem, o tipo de substrato. Por exemplo, em alguns lugares do mundo, nós temos sistema de aquecimento abaixo da grama para evitar o congelamento...
E quanto à grama artificial? Não seria uma boa solução para evitar os problemas nas arenas multiuso?
Sim, os sistemas de grama artificial atuais são muito adequados para o futebol, mas a Fifa ainda prefere os gramados naturais por uma questão de cultura. Acho que ainda teremos de aguardar uns dez anos até que a nova geração de jogadores se acostume com os pisos artificiais e aceite jogar sobre esses novos pisos.
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