segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Que país é esse?

No final da década de 1970 Renato Russo escreveu Que país é esse?: “Nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição... Que país é esse?”. A situação do país mudou tão pouco que o cantor gravaria a música quase dez anos depois, com estrondoso sucesso. Passados mais de 30 anos a letra da música é tão atual quanto quando foi escrita.

A direita oligárquica histórica foi substituída pelo neoliberalismo, disfarce moderno de antigas ideias, que por sua vez deu lugar a esquerda, não mais revolucionária, mas nem por isso menos ideológica. Tudo farinha do mesmo saco, sem tirar nem por um grama sequer.

Depois de um governo recheado de denúncias de corrupção, onde a alta cúpula do partido desmoronou por completo (Palocci, Zé Dirceu, Genuíno, e Cia.), o presidente Lula deixou o governo como o novo Vargas, o “pai dos pobres”, o símbolo do crescimento econômico do Brasil. Rodeado por contraventores, gente com dinheiro na cueca, mensalões e mensalinhos, filho e compadre envolvido em denúncias de enriquecimento ilícito, Lula nunca soube de nada, um pobre semianalfabeto inocente de tudo, herói de uma nação sem heróis – ou de falsos heróis, de Macunaímas.

Como tudo no Brasil vira em pizza, passado o turbilhão, os antigos companheiros tentaram voltar. Novamente denúncias. Palocci, que havia declarado, em 2006, patrimônio de R$ 375 mil, comprou imóvel de R$ 6,6 milhões. Uma festa! Fossemos um país com um pingo de vergonha na cara e Palocci teria ido para cadeia dar explicações. Aqui não, até a presidente sai em sua defesa; tudo foi feito para que ele não precisasse dar explicações. Agora, o de sempre. Não vai dar em nada, vai virar pizza novamente. Pizza que é o prato preferido do brasileiro, o feijão com o arroz é coisa do passado.

Mas o Brasil é um país sui generis, nossa escola de corrupção forma todo o tipo de ladrão, não é exclusiva para políticos. A bola da vez é a CBF. Essa sim é um prato cheio. Mexer em uma das paixões nacionais não é brincadeira. O brasileiro venderia o país, mas não ficaria sem o futebol. Por isso há tanto em jogo. Rede Globo e Record vêm se digladiando pelos direitos de transmissão, e não é por migalhas, os números são astronômicos. Mas vamos direto ao assunto: Copa do Mundo no Brasil.

Em 2009 a CBF informou que os gastos com as reformas e construções de estádios seriam de R$ 2,5 bilhões. O orçamento já está em R$ 5,8 bilhões e a previsão é de que passe de R$ 7 bilhões! E pior, não há nada pronto, a maioria das obras está com o cronograma atrasado e outras nem começaram. Não há nada em infraestrutura, a tal da “mobilidade urbana”. O país já é um caos com a população nativa circulando, imaginem quando os gringos chegarem. Não há aeroportos em condição de operar com a demanda nacional, não temos boas estradas, trens e hospitais. Em comparação com a Europa, estamos ainda no século 19.

Mas o Brasil tem a solução, é o famoso jeitinho brasileiro, temos o “processo de obras emergenciais”. É a salvação! Graças a Deus teremos a Copa aqui. Estamos salvos! Vamos gastar mais de R$ 100 bilhões para que meia dúzia de políticos e empresários encham as cuecas. E a educação, a saúde...onde entram os benefícios para o povo brasileiro nisso tudo?

Os presidentes do Brasil, da CBF e do COL disseram que tudo que for construído será em benefício público, do brasileiro. E o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa confirmaram! O agora deputado Romário – coisas de Brasil - estima que entre 10 e 20% desses gastos bastariam para resolver cerca de 80% dos problemas do Brasil com saúde e educação. Se o país é/seria capaz de “levantar” 100 bilhões para receber uma Copa, por que então não levantar R$ 10 bilhões para resolver os problemas emergenciais da nação?

Ora, por que roubar pouco se há como roubar mais. Diz a lenda que o país poderia construir mais de um Maracanã e uma Brasília com o dinheiro desviado; nessa Copa, vamos comprar o Alasca dos Estado Unidos. E ainda há a MP – mais uma, somos o país das MPs – da Lei das Licitações da Copa, o tal Regime Diferenciado de Contratações, que a presidente não quer mexer, defende com unhas e dentes. Acha ela que o Brasil precisa mostrar que é um país de honestos. Claro presidente, somos de fato um país de Paloccis, Sarneys, Dirceus, Teixeiras, Temmers, e não queremos que nada atrapalhe a nossa copa, “vamos faturar um milhão”.

E ainda temos as Olimpíadas em 2016... Estou pensando em entrar para a política, meu medo é que falte cueca nos próximos anos no Brasil, seria muito azar...

Alguém ainda respeita a constituição? Alguém ainda acredita no futuro da nação?



Rodrigo Trespach - Litoralmania

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PAPP logotipo

Logotipo PAPP Fábrica de Papelão Noruega (Fictício)